sábado, 29 de maio de 2010

Havendo falta de melhor, a introspecção é (inevitavelmente) inevitável. E num desses momentos - há cerca de uma hora, mais coisa menos coisa - lembrei-me de que me passaste muitas vezes pela cabeça depois daquele confronto, que passou a conforto.
E é nestes momentos que é tranquilo exagerarmos na (ou da) nossa capacidade interpretativa.




Reflectes o que o meu corpo fez, mas escondes por onde os meus pensamentos andaram - durante o dia.
E não estiveram aí, nem estiveram em ti...

domingo, 23 de maio de 2010

Coincidências...

Ultimamente têm sido muitas... Muitas mas boas. É um bocado fantástico quando acontecem... Até porque ficamos sempre de pé atrás e pensamos: Será que nada acontece por acaso? Ou, pelo contrário, tudo acontece por acaso?
É complicado ignorarmos a primeira questão quando as coincidências vêm umas atrás das outras... Ora sobre o mesmo assunto; Ora sobre a mesma pessoa; Ora sobre ambos...
Coincidências são coincidências - diz ela - e até aí maravilha.
O chato é quando são más coincidências. O chato é quando são coincidências que de boas passaram a más - ou seja, antes eram boas e agora são más... Para quê complicar?(!!!)

E tu és isso!!! Uma, muito, má coincidência - porque já foste uma excelente coincidência - e apareces quando menos (te) espero; e roubas-me o bom humor nos momentos mais inoportunos; e mexes comigo quando mais quero estar sossegada; e não me vês quando volto a querer que tu me vejas; e deixas-me irritada porque percebo que tens influência sobre mim... Mas agora uma má influência. Porque deixas-me mesmo irritada, Mulher!!!!

Mas prefiro não acreditar em coincidências... De alguma forma se apareces - mal ou bem - é porque ainda há algo... Nada está terminado - e é neste momento que te odeio e que te adoro, como a uma Deusa... A ti, que estás nesse pedestal... Nesse pedestal que não tenho a certeza se mereces. Mas... Enquanto aí estás, é teu! É teu e tu não aproveitas; E eu não aproveito... É teu e tu sabes mas ignoras...

Os extremos tocam-se.

sábado, 8 de maio de 2010

Nada mais brilhante...

"Ah, gente pecadora, homens e mulheres que em danação teimais viver essas vossas transitórias vidas, fornicando, comendo, bebendo mais que a conta, faltando aos sacramentos e ao dízimo, que do inferno ousais falar com descaro e sem pavor, vós homens, que podendo ser apalpais o rabo às mulheres na igreja, vós mulheres, que só por derradeira vergonha não apalpais na igreja as partes aos homens, olhai o que está passando, o pálio de oito varas, e eu, patriarca, debaixo dele, com a sagrada custódia na mão, ajoelhai, ajoelhai, pecadores, agora mesmo vos devíeis capar para não fornicardes mais, agora mesmo devíeis atar os queixos para não sujardes mais a vossa alma com a comilança e a bebedice, agora mesmo devíeis virar e despejar os vossos bolsos porque no paraíso não se requerem escudos, no inferno também não, no purgatório pagam-se as dívidas com rezas, aqui sim é que eles são precisos, para o ouro doutra custódia, para sustentar a prata toda esta gente, os dois cónegos que me levantam as pontas do pluvial e levam as mitras, os dois subdiáconos que me soerguem a fímbria da falda, os caudatários que vão atrás, por isso caudatários são, este meu mano, que é conde e me transporta a cauda do pluvial, os dois escudeiros com os flabelos, os maceiros com as varas de prata, o primeiro sub diácono com o véu da mitra aurifrigiata, a tal em que não se pode tocar com as mãos, tolo foi Cristo que nunca pôs mitra na cabeça, seria filho de Deus, não duvido, mas rústico era, porque desde sempre se sabe que nenhuma religião vingará sem mitra, tiara ou chapéu de coco, pusesse-o ele e passava logo a sumosacerdote, teria sido governador em vez de Pôncio Pilatos, olha do que eu me livrei, assim é que o mundo está bem, não fosse ele como o fizeram e não me veriam patriarca, pagai portanto o devido, dai a César o que é de Deus, a Deus o que é de César, depois cá faremos as contas e distribuiremos o dinheiro, pataca a mim, a ti pataca, em verdade vos digo e hei-de dizer, E eu, vosso rei, de Portugal, Algarves e o resto, que devotamente vou segurando uma destas sobredouradas varas, vede como se esforça um soberano para guardar, no temporal e no espiritual, pátria e povo, bem podia eu ter mandado em meu lugar um criado, um duque ou um marquês a fazer as vezes, porém, eis-me em pessoa, e também em pessoa os infantes meus manos e senhores vossos, ajoelhai, ajoelhai lá, porque vai passando a custódia e eu vou passando, Cristo vai dentro dela, dentro de mim a graça de ser rei na terra, ganhará qual dos dois, o que for de carne para sentir, eu, rei e varrasco, bem sabeis como as monjas são esposas do Senhor, é uma verdade santa, pois a mim como a Senhor me recebem nas suas camas, e é por ser eu o Senhor que gozam e suspiram segurando na mão o rosário, carne mística, misturada, confundida, enquanto os santos no oratório apuram o ouvido às ardentes palavras que debaixo do sobrecéu se murmuram, sobrecéu que sobre o céu está, este é o céu e não há melhor, e o Crucificado deixa pender a cabeça para o ombro, coitado, talvez dorido dos tormentos, talvez para melhor poder ver Paula quando se despe, talvez ciumento de se ver roubado desta esposa, flor de claustro perfumada de incenso, carne gloriosa, mas enfim, depois eu saio e lá lhe fica, se emprenhou, o filho é meu, não vale a pena mandar anunciar outra vez, vêm aí atrás os cantores entoando motetes e hinos sacros, e isso me está fazendo nascer uma ideia, não há como os reis para as terem, as ideias, senão como reinariam, virem as freiras de Odivelas cantar o Bendito ao quarto de Paula quando estivermos deitados, antes, durante e depois, ámen."


José Saramago, Memorial do Convento

sábado, 1 de maio de 2010

Time After Time

Acordada pela campainha - que não parava de tocar - abri os estores e vi o céu coberto. Liguei la machine e revi, na agenda que é a minha cabeça, tudo o que tinha para fazer. Revi e cheguei à conclusão de que não tenho tempo para tudo. Nem tempo, nem saúde.
Agora, passadas (umas) poucas horas, com os auscultadores que me ditam a matéria postos, olho para o céu e vejo a fugir a última nuvem que consigo ver.
Chuva? Vento? Frio?
Enfim. O sol faz-me querer desistir. O calor faz-me querer mandar tudo à fava. Mas não posso - Ou não devo?
Agora, já sem ouvir aquilo que os auscultadores me ditam, penso se devo, ou não, escrever uma teoria sobre o Poder e o Dever (ou Não Poder e Não Dever)... Mas não posso - Ou não devo?
Não tens medo quando não tens tempo?

Já não vejo a nuvem.