quinta-feira, 17 de maio de 2018

Em terços


O que faço eu com todo o vazio e todo o frenesim que trago aqui dentro? Quantas sou? O que quero? Estou cheia; a abarrotar e só consigo distinguir a incerteza. O desejo de contemplar o vazio; o conforto que encontro apenas na ideia. O nada… Horas e horas. O tempo… Tic (…) tac. 
Quantas sou? De onde venho? O que é isto que me preenche e não me deixa ver? Sou cega ao espelho. Sinto-me a querer desesperar e não consigo. Será uma necessidade? Rompam-me de uma vez! Destruam-me! Libertem-se! Abandonem-me. Nada disto me pertence. Eu não distingo. Eu não vejo. É vazio. E eu estou tão cheia que consigo sentir a pele a esticar. Os pulmões não têm espaço para o pouco ar que entra. O peito a dilatar. Nada é meu. Vão-se embora. Vão-se embora. 
O que quero? Quais são as minhas necessidades? Agora quero uma fotografia da minha avó, de quando era jovem. E quero muito fotografias com ambas, de agora. Necessito de que nunca morram. Custa a respirar. Sinto-me profundamente ingrata, um murro no estômago. É a minha única testemunha e também a única que me protegeu. Quem fui eu, nestes últimos anos? Para onde fui? Onde estou? Em quantas me divido? Onde quero estar? Onde necessito estar? Só quero dormir. Só quero que o tempo pare a qualquer momento. Só quero sentir o estômago cheio, com prazer, e que dure por dias. Só… Tantos “sós” e tantos “quereres”… Não tenho nada. Não sou digna de nada. E toda aquela gente a morrer e a lutar. Descobri o parasita que o meu corpo transporta. Uma já está. A mais óbvia.

Sem comentários: