É
tudo aquilo que (me) está a mais ou a menos. É toda aquela paixão que consome a
minha frieza; a minha crueldade. É todo aquele ódio que desperta os meus mais
primários sentidos. E não pára; não me deixa dormir. Tamanha intensidade
daquilo que sinto - e do que penso que sinto - traduz-se em correria veloz;
ágil; frágil... Traduz-se em cansaço e em dúvida... Permanente... Permanente
dúvida.
E
o pensamento adora cada pedaço das obras que constrói, oh se adora. Venera cada
etiqueta inventada (freneticamente) para temas; subtemas; micro temas; macro
temas. O pensamento alimenta-se do pensamento que se alimenta de mim.
Escrava
da minha bulimia espiritual fico-me. Fico-me na minha metamorfose... Caminhando
transparência...
Mas
é tudo tão vago... Tão vazio... Tão cheio de vazio...
E
o antagonismo desafia-me constantemente. Duelos. Frente a frente. E eu perco.
Perco-me.
Mas
não tenho tempo! Franzina, ergo a réstia de auto estima desta mente delinquente
e ofereço o rosto esquálido às negociações diárias, reclamando vitória; aceitando
a derrota.
Transpirando
cólera, a lividez finge ser máscara, mascarando a lividez. Só ouvi falar de um
homem assim. Um único. Mas esse era abençoado pela droga - e não era Amor.
Também
eu, toxicómana, me entrego à minha sede. Corro atrás do nada, procurando o tudo
e entendendo a ineficácia do processo-invertido.
Contudo, continuando correndo me encontro. No mais primário da palavra...
Encontro-me. Encontro-me em cada canto das 4 paredes, tal prisioneira de
psicoses várias; variadas; variantes.
Mas
esta sede insaciável espreme cada hora atribuída ao repouso da massa cinzenta.
E por isso aqui estou. Perdida; entregue a tentativas ultrapassadas de descanso
ordeiro. E depois há a incerteza!!! A incerteza do que é correcto, fruto do
conflito entre a praga do querer e a praga do prazer.
E
não há choro; não há raiva; não há rancor… Só vazio. Um vazio produto de
metamorfose velha; ordinária; ultrapassada.
Mas não há tempo… Não tenho tempo para novas construções do novo – ou deverei dizer
reconstruções do antigo?
E
já não há raiva e, consequentemente, já não há palavras e a fasquia aumenta e a
dificuldade surge e o desespero fica… Mantém-se… O desespero é constante na
vida boémia que pratico; que venero. Só assim faz sentido. A necessidade é a
motivação do motivado. Só assim nasceu a roda. A minha é a pressão.
E
depois entra a música. Abro-lhe as
portas e convido-a a aniquilar a sanidade que teima em assentar. O Universo da
loucura é negro. O negro é vasto; o negro é infinito. O Universo da loucura é
um buraco negro. Os buracos negros são vastos; são infinitos. A própria loucura
é infinita. É ter o Rei na barriga e
ser miseravelmente conformado; satisfeito. É ter o Rei na barriga e vomitar teorias em cada prato que nos é
generosamente cedido – e grita: Come-me.
Voltei!
A agonia que preenche artérias é perfumada por expressões faciais que
pressionam cada saber mal estruturado; cada ideologia mal cuspida e mal colada.
Assim,
nada mais me resta que entregar-me ao fluir de cada batimento desordenado e
render-me ao conforto… O conforto do desconfortável e da correria… O conforto
da segurança e do controlo. O conforto de quando sabemos que controlamos. O
conforto do dom da palavra. O conforto do dom de bem-expressar.
Faz
parte do frenesim da busca de todos nós; de cada um de nós, particularmente. Do nós; do tudo.
E,
por isso, mais uma vez sou eu. Obra mal esculpida, de más escolhas e de cuspos;
pinceladas meio dadas, em cores feias; mal misturadas. Mas tudo feito por mim,
bem sei... Infeliz consciência que expõe a culpa através dos olhos que seduzem
quem se deixa ficar... Quem procura um tudo descomprometido (...), de prazeres
infinitos; sem regras.
E
aqui me coroo. Rainha do descompromisso para com a vida, num frenesim alucinante,
praticando o praticamente impraticável. Sem cuspos, sem pinceladas, sem
seduções. Um Até Sempre pela
constância… Há-de continuar, naturalmente.
Trabalho para AEC - Módulo de Português